quinta-feira, 24 de maio de 2012

Ausente.

Enfim é saudade, eu devo admitir. Saudade de ti e do teu livro de arte renascentista, ou será que tenho apenas saudade do livro? Eu já não sei mais, apenas seguimos nossos caminhos, que por mais irônico que seja, são os mesmos caminhos. Estamos caminhando lado a lado ainda, mas nunca estivemos tão longe, tão distantes. Eu ainda te vejo na mesma cafeteria, no mesmo sebo, na mesma sala de cinema, no mesmo bar. Seus lugares favoritos são meus lugares favoritos, meus lugares favoritos são seus lugares favoritos. Não sei se é melhor ou se é pior, te ver assim tão constantemente, tão presente. Você é o ausente mais presente em minha vida, eu sempre dizia e você não me compreendia. Já agora, você é o presente mais ausente, será que pode me ouvir? É claro que pode, você está logo alí, a poucos passos de mim, enquanto eu tento ficar a quilômetros de você e tento te manter apenas como uma saudade, uma vontade.

sábado, 12 de maio de 2012

Eu e um quarto de você, com você.

Hoje eu acordei meio assim, meio com saudade de você, do seu cabelo cacheado todo bagunçado, dos seus óculos irregulares que você usa pela manhã, do vãozinho entre os dentes da frente que você tanto odeia, do seu cheiro constante de café e cigarro, das suas gargalhadas escandalosas que fazem todos olharem para você, da sua voz falhando quando falava que me amava, da careta que você fazia pra me fazer rir depois de uma discussão, do seu suéter azul marinho com marca da ponta do cigarro na manga, das suas pintinhas no pescoço, da sua mão gelada no meu corpo quente.
Hoje eu acordei meio assim, meio querendo você por inteiro.

sábado, 5 de maio de 2012

Ele, nós, eu, nós.

Eu sou de gêmeos, ele de capricórnio. Ele sempre fala sobre economia, eu sobre arte. Eu tomo vinho, ele cerveja sem álcool. Ele ouve Nirvana, eu Chico Buarque. Eu sonho com uma carreira promissora, ele com o nossos futuros 2 filhos. Ele gosta do azul, eu do laranja. Eu gosto de banho quente, ele de banho frio. Ele dorme do lado direto da cama, eu do esquerdo. Eu acordo cedo, ele depois do meio-dia. Ele lê o jornal, eu a biografia do Andy Wahrol. Eu sinto frio nas mãos, ele nos pés. Ele me ama, eu também o amo.

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Bagunça.

Esses dias revirando algumas gavetas, pastas e lembranças, me apareceu aquela imagem de você me arrastando pro meio da rua, no meio do temporal, eu relutando, e você insistindo, foi quando deixou que a saliva e a água da chuva se misturarassem, se incorporarassem, nos completassem. Quase posso ouvir os garçons mal educados daquele bar que você adora gritando que não iriamos entrar lá molhados daquele jeito, as velhinhas comentando entre si que pegariamos uma pneumonia e meia dúzia de patricinhas rindo dos nossos cabelos e roupas molhadas. Foi quando você nos separou e gritou, gritou até seus pulmões esvaziarem e cansarem, gritou todo o amor que tinha dentro de você. Gritou tanto, que o amor escapou.. acabou.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Contagem regressiva.

Ele era ótimo. Desde a primeira vez, sempre ria das minhas piadas na hora certa, me convidava para visitar galerias e bares que eu jamais pensei em ir, tinha um perfume que na verdade era mistura do cheiro do cigarro com chiclete de menta, não sei porque mas esse cheiro me atrai tanto, e o sorriso.. ah, o sorriso.
Certo dia fui a sua casa, e como de costume lá estava ele com seu all star sujo, seu jeans rasgado e uma camiseta amaçada de uma dessas bandas dos anos 80. Boa parte daquela tarde ele gastou vangloriando sua tão amada coleção de discos do Pink Floyd, confesso que não sou a fã número 1 de Pink Floyd, muito menos a número 999, mas até eu invejo aquela coleção. Foi entre uma música, um sorriso, outra música, um cafuné, que ele disse então, que iria partir. Mas, partir para onde? Não disse, apenas foi.
Tudo que sobrou foi meu coração na mão e o cheiro de cigarro no meu cardigan.
Após exatos 63 dias, ele voltou. Fui correndo encontrá-lo, a minha pele fervia de tão quente, em pleno inverno, fervia de saudade.
Quando abracei-o, foi que notei, ele já não era mais o mesmo, não ria das minhas piadas, não se irritava com meu sarcasmo, o cheiro de cigarro foi embora, dando lugar a um perfume excentrico, forte, daqueles que ataca minha rinite, que eu detesto. E o sorriso? Ah, o sorriso.. estava escondido, não apareceu nem ao menos para acelerar meu coração.
Demorei 17 encontros e 63 dias de solidão para finalmente descobrir quem ele era para o mundo e  quem ele escondia de mim.
Odeio ser a última a saber.. a sofrer.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Sonho, sono, somos.

- Eu odeio esse cheiro.
- Que cheiro? Sua louca.
- Esse seu cheiro de cigarro e perfume importado.
- Mentirosa.
- Mentirosa por quê?
- Você não consegue odiar nada em mim, até mesmo quando eu te provoco.
- Na verdade, há muito em você que me incomoda.
- Então não me olhe, por 5 minutos e eu direi que não me ama mais.
- Certo.
- Não consigo.
- Eu disse.
- Para de ser tão convencido, é só que..
- Só que, o que?
- Eu adoro como o cheiro do seu perfume se mistura com o do meu cigarro.
- Eu sei que ama, mas está na hora de partir.
- Mas já? Pra onde?
- Pra algum lugar que você só possa me encontrar depois da meia-noite.
- Tudo bem, adeus. Te encontro no próximo sonho.

terça-feira, 1 de maio de 2012

Domingo nublado.

Eu detesto esses dias em que minha rinite ataca, meu humor é bipolar e eu estou sempre carente de alguém pra conversar sobre arte. São dias em que meu estômago embrulha, o dia é sempre cinza e eu nem ao menos sinto o aroma do vinho.
Não sei o que acontece, minha mãe diz que é coisa de gente fresca, minha vó me indica um remédio e eu.. eu tento procurar a solução num disco qualquer do Los Hermanos.
É numa dessas canções do tipo "... É bom... às vezes se perder sem ter porque, sem ter razão." que eu entendo que nada está errado, que esses dias que eu tanto detesto são os meus dias, são dias onde o encontro é entre mim e com quem eu desejo ser, afinal eu não sou ninguém de mais, mas nesses dias eu posso ser.